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O DESABAFO DE UM PM REFORMADO.


Um dia, andei de viatura policial, andei de Fusca, Veraneio V6, (temido camburão), Opala, Fiat 147 , D10, mas nem tanto as Hilux, Blases, Tucsos entre outras tão finas assim.

O nosso ar condicionado era a janela aberta mesmo, Facebook, Whatsapp, Instagram ou Youtube bem como os celulares não existiam, no nosso antigo "P18" tínhamos mesmo para ficar distraindo era ficar olhando o movimento das ruas.

Os Sargentos de dia (adjuntos) geralmente eram Cabos, faziam a sua ronda a pé, e os Oficias de "dia" nas suas casas esperando quem sabe este Sargento adjunto (cabo ou Sargentos) levarem até ele um pratinho com pão, queijo, mortadela e um copinho de K-suco ao invés de "problemas." Afinal os "puxas sacos" são como "putas" existem desde a época de Cristo.

Andei fardado pra cima e pra baixo, com cinto de guarnição que tinha apenas um revólver 38 canela seca com cinco munições no tambor e daquelas que eram cheias de ferrugem, (Zinabre) 06 munições de recarga e se desse sorte ou fosse amigo do armeiro uma algema quem sabe.

Não existia pistola .40 com 15 cartuchos mais dois carregadores sobressalentes, nunca ouvimos falar no Marcos do Val e nem no Marcos Bomfim, Rádio digital, poderosas lanternas, celulares, tablets, rastreadores, nem tão pouco colete, este era de peito aberto mesmo, era a carcaça do Praça geralmente, porque Oficiais sempre ficavam atrás das suas mesas dentro dos quartéis ao contrário de hoje.

Hoje cada novato policial ganham o seu "kit" ontem o que ganhávamos era blocos de multas e apitos, no máximo.

Eu sou da escola de 1984, entrei nos meados de Junho, muito frio e comíamos uma ração fraca ao meio dia para vomitar no J4 para não passar fome, pois tudo naquela época era com extrema dificuldade, a coisa mais fácil de ganhar era o "Buck" (CADEIA) que os Oficiais principalmente aspiras adoravam dar ao praça, pois falar em defensores tipo (advogados) naquela época era o mesmo que assinar a "baixa" no mínimo se desse tempo.

Fui policial da antiga Constituição, minha farda era de tergal, usávamos boina azul, no tempo que as viaturas eram de uma cor só, cabos e soldados não podiam votar. Os políticos já eram ladrões mas não existia a internet para ficarmos atentos, e o cidadão tinha direitos até de ir e vir, polícia civil e militar ainda estavam amasiadas pelo amor e não pela dor, ou interesses particulares e bandido tinha o direito de puxar cadeia.

Prestei continência, hasteei bandeiras, cantei o Hino nacional, da bandeira, dos fuzileiros e da policia militar. Patrulhei, tirei guarda, fiz faxina, manutenção na casa de Oficiais, cortei grama, pintei paredes, fui servente, pedreiro, carpinteiro e puxei pernoites, pagava 10, 20... Fiz o diabo. Ficava de serviço por horas, sem ir embora pra casa, escala 12 por um suspiro era jardim de infância para nós daquela época, e fui laranjeira, em meu serviço aprendi muito sobre honra, retidão, respeito, confiança e companheirismo de verdade, não estes que se vê hoje em dia com tapinhas nas costas e reuniões para os chegados do futebol acompanhados de fartos beliscos e muitas risadas forçadas.

Não existia Sargento Juruna e consequentemente não eram discriminados pelos Sargentos de carreira que se acham superiores aos mesmos. E uma promoção demorava mais de 20 anos para chegar no lombo do Praça.

As más criticas eram e são até hoje geralmente lançadas as pessoas de caráter e não a quem deveria acertar, e as criticas verdadeiras te ajudam a crescer, e te forçam a seguir sempre.

Aprendi que o poder nem sempre estava com quem deveria, aprendi também que armas não geram violência e flores não trazem a paz, e sim, a intenção das mãos de quem as carregam.

Aprendi que devemos respeitar Pai e Mãe. Que a família é a base e a estrutura de tudo. Aprendi que devo crer em Deus, e não em igrejas ou quaisquer que sejam a religião, pois nenhuma te salva mesmo, e que ele nos ouve quando falamos com ele.

Hoje estou com minha farda pendurada no cabide, e algumas fotos já amareladas pelo tempo, me apertam o peito e fazem meus olhos jorrarem de saudades de tudo e dos verdadeiros amigos que lá deixei.

Minha garganta sufoca por um nó da saudades de meus verdadeiros amigos, mas lembro que a minha missão já foi cumprida, que minhas batalhas em viaturas super equipadas, foram um sonho que nunca viraram realidade.

As noites na guarda, vão ficar na lembrança e os amigos de caserna em meu coração.

Hoje não uso mais farda, e nem ando mais em viaturas, nem a lua será mais a minha companheira nas noites frias.

Não presto mais continência, nem faço ordem unida, nem aula de tiro, nem formatura, beliscos ou futebol dentro das unidades, pois estou reformado, de lado, esquecido por tudo que fiz um dia. Mas é assim mesmo.

Mesmo assim, minha alma nunca deixará de ser a de um Soldado, um guerreiro.

Você jovem Praça ou oficial, respeitem sempre um "antigo" ao invés de ignorá-lo, o receba em seu quartel, chame-o para uma prosa na sua unidade, ofereça um café, ouçam as suas histórias, ele fez muito pela sociedade e pode inclusive lhe ensinar muito também.

Não sejam indiferentes para aqueles que fizeram esta instituição para você poder prosseguir adiante.

Sejam amigáveis, cordiais e generosos, pois um dia você será um de nós e vai querer o mesmo tratamento.

Nesta vida se vive tão pouco, e nós somos quer queiram ou não uma grande família, e uma família se protegem, se amam e seguem juntos para um futuro melhor a qual tantos procuram através da felicidade.

No meu sangue corre o amor, respeito e admiração por uma instituição maravilhosa e por todos que nela servem com esmero e dedicação.

As PMs de todo o Brasil, eu me curvo e enalteço.

Força e honra família policial militar Brasileiro !!!

Postado por: Fernando Almeida

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